Ernest Beaux, o nariz por trás do Nº5

Ernest Beaux. Fonte: Colognoisseur
Um dos meu perfumes favoritos, o Chanel Nº5 tem muita história por trás dele. Hoje eu resolvi vir aqui contar uma parte da história por detrás da história: o nariz por trás do Nº5. Quem é Ernest Beaux, o perfumista marcado na história da perfumaria por dar vida ao maior perfume de todos os tempos? É isso que eu vim tentar responder aqui hoje.

Ernest Beaux nasceu em Moscou, na Rússia, no ano de 1881. Seu pai era francês, nascido em Lille, ao norte da França, e sua vó paterna havia se mudado para a Rússia no início dos anos 1840. Durante os anos 1898 e 1900, Ernest começou a trabalhar como de técnico de laboratório na fábrica de sabão da Alphonse Rallet & Co. de Moscou, a principal casa de perfume da corte imperial russa da época, onde seu irmão, Edouard Beaux, trabalhava como perfumista e membro do conselho de administração. Após deixar a empresa por dois anos, para atender o serviço militar obrigatório na França, Ernest retornou à Rallet, onde iniciou o seu treinamento para se tornar perfumista. Cinco anos depois, começou a fazer parte do conselho de administração da empresa.

Na Rússia, antes da Guerra

Na Rallet, Ernest criou dois grandes perfumes, o Bouquet de Napoleon e o Bouquet de Catherine, antes de ser requisitado pelo exército francês em 1914, durante a mobilização do general Charles de Gaulle, para lutar a I Guerra Mundial, contra o Império Alemão.

Uma coisa interessante de se mencionar é que, durante os quatro anos da I Guerra Mundial, o mundo passou por algumas transformações que seriam essenciais para a eclosão de outras guerras futuras. Em 1817, enquanto Ernest ainda servia o exército francês, aconteceu na Rússia, a Revolução Russa. A Revolução Russa foi uma série de eventos políticos que culminou no estabelecimento da União Soviética, sob o controle do partido bolchevique de Lênin, após a eliminação da Rússia czarista (autocracia) e do governo provisório.

A Rússia tinha se tornado uma nação industrializada a pouco tempo, o que fazia com que ela tivesse uma grande quantidade de operários. Muita mão-de-obra fazia os salários serem insuficientes. Dessa forma, havia um descontentamento com o governo, fazendo que que os ideais marxistas vindos da Alemanha gerasse um partido de viés socialista.

E essa aula de história aqui serve pra quê?

Bem, nessa época, com a tomada do poder pelo Partido Bolchevique, com apoio da população, quase todas as fábricas do país foram nacionalizadas. Muitas tiveram seu nome alterado, e algumas delas foram fundidas. Foi mais ou menos o que aconteceu com a Rallet, que foi renomeada com Svoboda (Liberdade) e depois fundida na fábrica Novaya Zarya (ex Parfum Brocard).

A Rallet era uma das mais famosas empresas da época, e isso aterrorizava os acionistas franceses, a família Chiris de Grasse, que decidem criar a Societé Française des Parfums Rallet, na tentativa de manter a marca e o seu nome ativo. Dessa forma, eles instalam uma fábrica da empresa em La Bocca (França), onde vários perfumistas da Rallet de Moscou, enquanto serviam no exército francês, buscam abrigo, fugindo da Revolução Russa.

Na França, após a Guerra

Ao fim da I Guerra Mundial, 1919, Ernest também se mantém na França, mas em Paris. No mesmo ano ele é apresentado a Gabrielle Chanel, com quem iria estabelecer uma parceria de sucesso com a produção dos perfumes Nº5 e Nº22. 

Mesmo não tendo se mudando para La Bocca, continuava a ter um bom relacionamento com a empresa e ex-colegas, mas a sua saída só é mencionada pela empresa no ano de 1924, quando ele seria contratado pelos irmãos Wertheimers, que geriam as vendas de produtos da Bourjois e dos perfumes da Chanel à época. 

Ernest Beaux foi responsável por criar outros grandes sucesso da perfumaria, como foi Bois des Îles, Cuir de Russie, Nº22, Gardênia, Le 1940 Beige, Le 1940 Bleu e Le 1940 Rouge (estes dois últimos descontinuados) para a Chanel e Soir de Paris e Kobako para a Bourjois.

A Rallet foi vendida para François Coty, que a manteve como linha de luxo de sua marca, a Coty. Depois de lançar o Nº1 (criação de Beaux) na França em 1923, e manter as vendas na Coty, gradativamente a marca foi perdendo prestígio. Hoje ela ainda existe, com uma marca muito menor, produzindo apenas 5 perfumes criados entre os anos de 2013 e 2016. Nenhuma fragrância original da marca continua a ser vendida.

Recomenda-se aqui a visita ao site da Rallet, que conta com toda a história da marca (inglês e francês), quanto a leitura da publicação Rallet No. 1, a flop in Russia, laid the foundation for the creation of Chanel No. 5 do site Perfume Projects.



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